mônadas
Definição:Leibniz
Com isto, com o infinitamente pequeno do cálculo infinitesimal, com a
força viva como elemento definitório da matéria em lugar da pura extensão,
temos os dois elementos, as duas ideias fundamentais que, chegando a uma
maridagem, a um casamento, a uma união perfeita, vão produzir a metafísica
propriamente dita de Leibniz. A metafísica de Leibniz está constituída toda ela
sobre o fundamento da ideia de "mônada". Pode-se dizer que a
metafísica, de Leibniz é a teoria das mônadas, e ele o compreendeu assim, visto
que sua última obra, publicada depois de sua morte, leva este nome:
"Teoria das Mônadas", ou dito em uma só palavra: Monadologia. Vamos
ver que é a mônada.
A palavra "mônada" não é de Leibniz. Provavelmente Leibniz
tomou-a de suas leituras de um filósofo da Renascença, üm físico, astrônomo e
matemático muito genial, porém um pouco fantástico que se chamava Giordano
Bruno. Giordano Bruno foi quem a pôs em circulação na Europa. Talvez ele a
tivesse tomado também de leituras que houvesse feito, de místicos e filósofos
da Antiguidade; talvez de Plotino, que também a empregou. O fato é que até
muito tarde na sua evolução pessoal filosófica não usou Leibniz a palavra
"mônada", e quando chega já a usá-la cristalizam-se em torno dessa palavra
todos os elementos fundamentais de sua metafísica.
Que é a mônada? A mônada é primeiramente substância, quer dizer,
realidade. Substância como realidade, e não substância como conteúdo do
pensamento, como termo puramente psicológico de nossas vivências, mas
substância como realidade em si e por si. Pois bem; que é para Leibniz ser
substância? Ser substância, para Leibniz, não consiste em ser extenso. Acabamos
de vê-lo. Para Leibniz, a extensão é a ordem das substâncias, a ordem da
simultaneidade das substâncias, como o tempo é a ordem da sucessão de nossos
estados de consciência. A extensão, o espaço é uma ideia prévia, mas não tem um
objeto substancial, real. O único objeto substancial, real, a substância, a
mônada, não pode, por conseguinte, definir-se pela extensão. Se a mônada
pudesse definir-se pela extensão, então a mônada seria extensa. Que quer dizer?
Que seria divisível; e se fosse divisível seria dual, ou trial etc. Mas a
mônada é mônada, ou seja, única, só, e, por conseguinte, indivisível. E para
que seja indivisível não vale falar de átomos. Os átomos materiais não
satisfazem a Leibniz, porque o átomo, se é material, se é extenso, é divisível;
será mais ou menos difícil de dividir pela técnica digital humana, mas como não
se trata de técnica digital, mas da estrutura de si e por si da substância, uma
substância extensa será sempre divisível. Por conseguinte, a mônada não pode
ser divisível; é indivisível, e se é indivisível, não é material, não pode ser
material. E se, sendo indivisível, é imaterial, que é, pois? Qual é a
consistência da mônada? Em que consiste a mônada? Se não consiste em extensão,
se não consiste em matéria, em que consiste? Pois não pode consistir em outra
coisa que em força, em energia, em vis, como se diz em latim; em vigor. A
mônada é, pois, aquilo que tem força, aquilo que tem energia.
Mas que é força e energia? Força e energia não as devemos representar
como aparecem na nossa experiência sensível. Na nossa experiência sensível
chamamos força à capacidade que um corpo tem de pôr em movimento outro corpo.
Define-se, pois, a força pela capacidade de pôr em movimento outro corpo. Mas
assim não pode definir-se metafisicamente a energia, porque aqui não há corpos;
as mônadas não são corpos, as mônadas não são extensas. Então, que será esta
força em que consiste a mônada? Não pode ser outra coisa que a capacidade de
agir, a capacidade de atuar. E que é este atuar? Que é este agir? Pois
verificamos que não há para nós intuição de ação, intuição dinâmica nenhuma,
senão a que temos de nós mesmos. Aqui outra vez o método do cogito cartesiano
vem dar a Leibniz um apoio e um auxílio. Pois como podemos imaginar e
representar a força, a energia da mônada? Pois do mesmo modo que nós, no
interior de nós mesmos, captamos a nós mesmos como força, como energia; quer
dizer, como trânsito e movimento interno psicológico de uma ideia, de uma
percepção a outra percepção, de uma vivência a outra vivência. Essa capacidade
de ter vivência, essa capacidade de variar nosso estado interior, que deixa de
ser a vivência A para passar a ser a vivência B, depois a vivência C; essa
capacidade íntima de suceder-se umas a outras as vivências, é isso que
constitui para Leibniz a consistência da mônada. A mônada é substância ativa.
Que quer dizer isto? Substância, diremos, psíquica. Essa substância ativa, essa
capacidade de passar por vários estados, essa possibilidade de_ viver com que
se pode definir a mônada, tem uma porção de caracteres interessantes.
Em primeiro lugar, a mônada não somente é indivisível, mas individual.
Que quer dizer isto? Quer dizer que uma mônada é totalmente diferente de outra
mônada; não pode haver no universo duas mônadas iguais. Em virtude do princípio
de Leibniz chamado dos "indiscerníveis", se uma mônada fosse igual a outra
mônada, verdadeiramente igual a ela, não poderiam ser duas, mas uma. As coisas
no mundo, as realidades no mundo são indiscerníveis quando são iguais.
Portanto, nunca são iguais. A individualidade da mônada é um dos pontos
essenciais da metafísica de Leibniz.
Mas, ademais, essa individualidade é simplicidade. Indivisível
significa indivíduo, mas ademais simples. Simples quer dizer sem partes. A
mônada não tem partes, mas, como é ativa, há de se encontrar uma definição que
torne compatível a individualidade, a indivisibilidade, a simplicidade da
mônada com as mudanças interiores da mônada. Como pode haver mudanças
interiores, atividade, mudança interior nos estados da mônada se, de outro
lado, tem que ser indivisível, individual e simples? Pois não há mais que uma maneira
que é dotar a mônada de percepção.
A mônada está, pois, dotada de percepção e de apetição, caracteres de
tudo o que é essencialmente psíquico. Percepção, porque a percepção é
justamente o ato mesmo de ter o múltiplo no simples. Na alma espiritual, no ato
da percepção, o múltiplo percebido, o conteúdo múltiplo da vivência está na
unidade indivisível, na unidade simples daquele que percebe. Na percepção é que
se dá precisamente o requisito que antes exigíamos, a saber, que a mônada seja
simples, indivisível e individual, e ao mesmo tempo que contenha uma
pluralidade de estados. Essa precisamente é a percepção; e assim define
literalmente Leibniz a percepção: como a representação do múltiplo no simples.
Mas, além de percepção, a mônada tem apetição, ou seja, tendência de
passar de uma a outra percepção. As percepções se sucedem na mônada, e esse suceder-se
das percepções na mônada constituem a apetição. Agora já temos uma
representação, uma ideia muito mais complexa e clara da atividade da mônada. A
atividade da mônada é dupla: de um lado, perceber; de outro lado, apetecer.
Corresponde, pois, — como diz o próprio Leibniz — a realidade metafísica da
mônada a essa realidade que chamamos o "eu".
Paremos agora um momento; relembremos o geometrismo e o mecanismo de
Descartes. Que vemos agora? Vemos que Leibniz perfurou, por assim dizer, o
fenômeno, a aparência do geométrico, do mecânico, do físico, do material, e por
debaixo dessa aparência fenomênica do extenso, do mecânico, do material, do
físico, descobriu, como suporte real metafísico dessa aparência mecânica, a
mônada, que não é extensa, que não é movimento, mas sim é pura atividade, ou
seja, percepção e apetição.
Estas mônadas são a sucessão constante de diferentes e diversas
percepções, o trânsito constante de uma a outra percepção. E qual é a lei
íntima desse trânsito? É uma lei espontânea. Assim como o círculo percorrido
por um ponto está já in nuce, em germe, dentro da divisão infinitesimal do
ponto, assim também as mônadas, para Leibniz, não têm janelas nem nelas penetra
nada do mundo exterior. Mas a lei íntima de sucessão de seus estados perceptivos
e de sua própria apetição é uma lei que rege essa sucessão; da mesma forma que
a lei íntima de uma função, de uma variável, está integralmente contida no seio
do ponto dessa variável. E assim verificamos que em qualquer momento de sua
vida, do seu ser, do seu existir; em qualquer instante da sua realidade, a
mônada é uma redução do mundo inteiro. É a mônada em qualquer momento de sua
vida algo que nesse momento contém todo o passado da mônada e todo o porvir,
visto que a série das percepções que a mônada vai tendo vem determinada por uma
lei interna, que é a definição dessa individualidade metafísica substancial. Em
qualquer momento da vida da mônada todo o seu passado está vertido nesse
presente e esse presente por seu turno não é mais do que o prelúdio do futuro,
inscrito já também na atividade presente da mônada. Pois bem; se as mônadas
refletem desta sorte o universo; se cada mônada é um reflexo universal, é assim
exclusivamente de um certo ponto de vista. Reflete, pois, cada mônada a
totalidade do universo, porém a reflete do ponto de vista em que se encontra
situada, e ademais a reflete obscuramente. Leibniz distingue perfeitamente a
percepção da apercepção. Leibniz distingue entre perceber e aperceber. Que é
aperceber? Muito simplesmente: aperceber é ter consciência de que se está
percebendo. A apercepção é o saber da percepção; a percepção que se sabe a si
mesma como tal percepção. De modo que Leibniz distingue entre estes atos
psíquicos: a apercepção e a percepção. [Morente]
Responsáveis
João Cardoso de Castro
Filósofo e Mestre em Educação, UFRJ
Murilo Cardoso de Castro
Doutor em Filosofia, UFRJ
http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=4739
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LEIBNIZ E SUA CONCEPÇÃO DO MELHOR DOS MUNDOS
*
Rogério VAGNA
**
RESUMO:
Trata-se, neste artigo, de examinar em que consiste o otimismo
leibniziano, que garante ter Deus escolhido este como o melhor dos mundos,
entre todos os possíveis que se apresentaram a Ele.
Concebendo haver um número infinito de substâncias simples, das quais
são formados os compostos, Leibniz defende estarem elas unidas numa harmonia já
preestabelecida pelo Criador.
Utilizando-se de leis simples e universais para criar, Deus
conseguiria atingir a maior diversidade de fenômenos, e, portanto, a máxima
perfeição no mundo.
PALAVRAS-CHAVE:
Mônada; multiplicidade na unidade;
Harmonia preestabelecida; otimismo.
Para que possamos entender o otimismo leibniziano, que garante ser
este o “melhor dos mundos possíveis”, é preciso, antes de mais nada,
compreender como se configura esta harmonia preestabelecida, da qual, segundo
Leibniz, Deus teria dotado o mundo no momento da criação. A harmonia
preestabelecida que se expressa nas várias percepções e na mútua dependência
das mônadas seria alcançada porque Deus teria como critério objetivo de
perfeição a íntima relação existente entre a diversidade e a simplicidade, isto
é, entre o múltiplo e o uno. Convém, no entanto, verificar o que Leibniz
entende por mônada, visto ser entre elas que se estabelece tal harmonia.
Caracterizando as mônadas como
substâncias unas e indivisíveis é que Leibniz começa sua Monadologia. Como
substâncias simples, ou seja, sem partes, as mônadas não podem apresentar
extensão nem figura possíveis, sendo consideradas como os “verdadeiros Átomos
da Natureza, e, em uma palavra, os Elementos das coisas”, tornando-se os
compostos nada mais do que um agregado de mônadas.
Não sendo as mônadas
substâncias materiais, elas devem ser entendidas como uma “força” em constante
atividade. Ingênitas e imperecíveis; criadas por Deus, só se extinguem por
aniquilamento, por não participarem do processo de geração e corrupção a que
estão
sujeitos todos os compostos naturais, os quais acabam em
partes. Também nenhuma de suas mudanças internas pode ser excitada, aumentada
ou diminuída por outras criaturas, já que “as Monadas não têm janelas por onde
qualquer coisa possa entrar ou ir”(LEIBNIZ,
1983a, p.105). Não recebendo as mônadas influência
externa, faz-se necessário que haja um princípio de mudança interno, que
comporte a “multiplicidade na unidade”(LEIBNIZ, 1983a, p.106), garantindo a
pluralidade de afecções que elas devem ter. Cada estado passadouro representado
por essa multiplicidade na unidade denomina-se percepção. As percepções de cada
uma das mônadas se acomodam perfeitamente às das outras, de modo que toda
substância é como um mundo completo e como um espelho de Deus, ou melhor, de
todo o universo, expresso por cada uma à sua maneira, pouco mais ou
menos como uma mesma cidade é representada diversamente
conforme as diferentes situações daquele que a olha (LEIBNIZ, 1983b, p.125).
Essa pluralidade de percepções que as mônadas compreendem na sua unidade pode
ser pensada analogamente com a atividade da nossa mente. Apesar de a mente ser
una, seu conteúdo é múltiplo e modifica-se a cada novo pensamento. Apetição
chama-se à tendência
que cada mônada possui internamente de mudar suas
percepções, chegando sempre a um estado novo de representação.
Dessa forma, temos assinalada a existência de uma
hierarquia de mônadas e, segundo Leibniz, não perceber isso foi o erro dos
cartesianos. Se as mônadas representam o universo sob seus respectivos pontos
de vista, e distinguem-se umas das outras pelas
qualidades que lhes foram atribuídas por Deus no momento
de sua criação, haja vista não ser possível encontrar-se na natureza dois seres
exatamente idênticos, essa classificação se dá pelo grau de perfeição de suas
percepções, sendo tão-só representações ora mais claras, ora mais confusas de
um mesmo todo. Daí Leibniz designar mônadas ou enteléquias as substâncias
simples, detentoras apenas de percepção, e denominar almas irracionais todas
aquelas que possuem uma percepção mais clara e acompanhada de memória, a qual
proporciona às almas uma certa consecução que imita a razão. Eis o que
possibilita aos cachorros, por exemplo, lembrar-se de uma dor sentida em
percepção anterior, somente pelo fato de verem o pau que lhes proporcionou tal
aflição. Já os homens possuiriam o que
se chama de Alma racional ou Espírito, pois são capazes de
conhecer as verdades eternas, chegando à ciência de si mesmos. Assim, afirma
Leibniz, “pensando em nós, pensamos no Ser, na Substância, no simples e no
composto, no imaterial e até mesmo em Deus,
concebendo como sem limites nele aquilo que em nós é limitado”(LEIBNIZ,
1983a, p.108).
Esta última possui não somente simples percepções, mas as percepções,
que seriam percepções dotadas de consciência.
No “Prefácio” dos
Novos Ensaios, nosso autor se utiliza do exemplo do bramido do mar, ouvido
quando estamos na praia, para mostrar possuirmos pequenas percepções
desprovidas de consciência, que somos incapazes de distinguir no conjunto de
todas.
Para ouvir este ruído como se costuma fazer, é necessário
que ouçamos as partes que compõem este todo, isto é, os ruídos de cada onda,
embora cada um desses pequenos ruídos só se faça ouvir no conjunto de todos os
outros conjugados, isto é, no próprio bramir, que não se ouviria se esta onda
que o produz estivesse sozinha (LEIBNIZ, 1988b, p.08).
Concebendo haver um número infinito de mônadas, “fontes de
suas ações internas e, por assim dizer, Autômatos incorpóreos”(LEIBNIZ, 1983a,
p.106), Leibniz elimina a dualidade entre res cogitans e res extensa. As
mônadas representam tanto substância quanto matéria. Todavia, é preciso
explicar como elas, que não influenciam umas às outras, podem se relacionar. Uma
sincronia existente entre as mônadas, da mesma maneira como dois relógios que
marquem sempre a mesma hora, pode ser concebida de três formas: 1)
construindo-as de tal modo que exerçam influência uma sobre a outra; 2)
encarregando seu Artífice de as ajustar continuamente; 3) construindo-as de
maneira tão perfeita que atuem em sincronia
desde sua criação. Do que já foi dito, sabe-se que a
primeira hipótese não pode ser aceita, pois uma mônada não pode exercer
influência sobre a ação de outra. Quanto ao Artífice ajustar continuamente suas
criaturas, parece contrário à sabedoria divina ter de reajustar sua obra de
quando em quando; o mecanismo criado por Deus seria tão imperfeito quanto
qualquer relógio produzido por um simples artesão. Com tanto não se nega que
Deus mantém continuamente o conjunto de sua obra, mas apenas se diz que Ele não
teria de intervir
extraordinariamente no mundo. Embora até mesmo os milagres
(entendidos pelas criaturas como ações extraordinárias) estejam em conformidade
com a ordem geral. As leis naturais ou “máximas subalternas” devem ser
entendidas como um “costume de Deus, do qual pode dispensar-se, por causa de
uma razão mais forte do que a que o moveu a servir-se destas máximas”(LEIBNIZ,
1983b, p.123). A terceira hipótese é garantida pela ideia de um movimento
perfeito, assim “a mesma força e vigor subsiste sempre, passando somente de
matéria em matéria, conforme as leis da natureza e a bela
ordem
pré-estabelecida”(LEIBNIZ, 1988a, p.235).
Na segunda carta de sua Correspondência com Clarke Leibniz
mostra como entende a relação de Deus com as criaturas.
Não digo que o mundo corporal é uma máquina ou um relógio
que anda sem a intervenção de Deus, e professo absolutamente que as criaturas
têm necessidade de sua influência contínua; mas sustento que se trata de um
relógio que anda sem ter necessidade de ser regulado, porque senão se deveria
dizer que Deus volta atrás. Deus previu tudo e cuidou de tudo de antemão. Em
suas obras há uma
harmonia, uma beleza já preestabelecida (1988a, p.239).
Sendo assim, cada uma das mônadas atua como se não
houvesse outra. Entretanto, as ações de todas fazem parecer que se influenciam
mutuamente. Dito isso, vêem-se as razões a priori para as coisas não poderem
suceder de outro modo.
Porque Deus, ao regular o todo, atendeu a cada parte e
muito em especial a cada Mônada, cuja natureza representativa nada conseguiria
limitar à representação de uma só parte das coisas, muito embora, na verdade,
esta representação seja confusa apenas nos pormenores de todo o universo, e
distinta apenas em pequena
parte das coisas, isto é, ou nas mais próximas ou nas
maiores, relativamente a cada uma das Mônadas; de outro modo cada Mônada seria
uma Divindade (LEIBNIZ, 1983a, p.111).
Atentando-se para o
que Leibniz chamou de Lei de continuidade, na qual afirma a natureza nunca dar
saltos, que tudo “se passa sempre do pequeno ao grande, e vice-versa, através
do médio, tanto nos graus como nas partes, e que jamais um movimento nasce
imediatamente do repouso nem se reduz, a não ser por um motivo menor”(LEIBNIZ,
1988b, p.10), pode-se dizer que o presente não seria senão a continuação de um
estado anterior, e que “também o presente está prenhe do futuro”(LEIBNIZ,
1983a, p.107).
Sobre as leis simples e universais O melhor dos mundos
possíveis é aquele que apresenta um maior intercâmbio eficiente entre os dois
fatores determinantes da perfeição, isto é, entre o uno e o múltiplo.
Resta-nos então compreender como se relacionam unidade e
multiplicidade, ou seja, como se consegue o mundo mais diverso estando ele
submetido, pela necessidade, à simplicidade.
Leibniz resolve tal problema dizendo: No que se refere à
simplicidade das vias de Deus, esta realiza-se propriamente em relação aos
meios, como pelo contrário, a variedade, riqueza ou abundância se
realizam relativamente aos fins ou efeitos. E ambas as
coisas devem equilibrar-se, como os gastos destinados a uma construção com o
tamanho e a beleza nela requeridos (LEIBNIZ, 1983b, p.122).
Ao criar o mundo
Deus escolheu aquele que é o mais perfeito, ou seja, o que é ao mesmo tempo
mais simples em suas leis e mais diverso em seus fenômenos. Há então, com a ideia
de unidade na multiplicidade, uma identidade entre perfeição e harmonia, a
ponto de tornarem-se uma só coisa. A harmonia é entendida como um consenso na
pluralidade, é ainda uma ordem, uma regularidade. No Discurso de Metafísica,
Leibniz diz não ser possível imaginar no mundo eventos que não evidenciam
alguma uniformidade, por mais complexos que eles possam ser (1983b, p.123).
Leibniz acreditava
que o melhor dos mundos deve apresentar uma maior diversidade e assim possuir o
maior número possível de indivíduos. Daí ele não aceitar a existência do vácuo,
pois no Universo “quanto mais matéria existir, mais Deus terá ocasião de
exercer sua sabedoria e seu poder” (LEIBNIZ, 1988a, p.238).
O uno e o múltiplo estão reunidos em uma harmonia já
preestabelecida, de modo que as ações de Deus estariam em conformidade com as
leis mais gerais.
Assim, aquilo que é tido por extraordinário, o é apenas
relativamente a alguma ordem particular estabelecida entre as criaturas, pois
quanto à ordem universal tudo nela está conforme. É tão verdadeiro isto que,
não só nada acontece no mundo que seja absolutamente irregular, mas nem sequer
tal se poderia forjar, [visto que]... se alguém traçar, duma só vez, uma linha
ora reta, ora circular, ora
de qualquer outra natureza, é possível encontrar noção,
regra ou equação comum a todos os pontos desta linha, mercê da qual essas
mesmas mudanças devem acontecer. Não existe, por exemplo, rosto algum cujo
contorno não faça parte duma linha geométrica e não possa desenhar-se dum só
traço por certo movimento regulado (LEIBNIZ, 1983b, p.123).
Temos então que a
lei da simplicidade é a mais eficaz, aquela capaz de produzir o máximo de bens,
requerendo o mínimo de esforços; e isso, acredita Leibniz, arranjaria o melhor
dos mundos possíveis. Dizer que leis mais simples são a condição para a
multiplicidade das coisas existentes não garante serem poucas as leis que geram
a
diversidade, mas apenas que são as mais simples que o
fazem. Não se nega que o melhor mundo ainda possua uma infinidade de leis
naturais. Considerar uma lei como a mais simples quer dizer também que ela se
aproxima mais da perfeita universalidade, que está
livre de exceções. Pois as exceções se dão quando duas
leis se mostram conflitantes e uma restringe a outra; agora, se as exceções
tornam as leis mais complexas, a maior simplicidade deverá exigir, então, leis
singulares e universais. Leis que guardem exceções seriam mperfeitas e,
portanto, contrárias à sabedoria divina. Daí o melhor dos mundos
envolver um conjunto de princípios universais e perfeitos
e não um sistema de leis conflitantes, na qual uma maior regularidade
compensaria as falhas de uma menor. A universalidade é sinal de regularidade;
uma multidão de leis universais é que será capaz de
produzir uma enorme pluralidade de efeitos.
Há uma infinidade
de mundos possíveis no entendimento divino e não se pode dizer que sua escolha
tenha sido arbitrária ou apenas amparada por sua vontade. Deus possui a
Potência, da qual tudo se origina, também o Conhecimento da particularidade das
idéias e
finalmente a Vontade, que age de acordo com o princípio do
melhor. Se em Deus esses atributos não encerram quaisquer limites, nas mônadas
criadas se encontram proporcionalmente ao grau de perfeição que possuem.
“Diz-se que a criatura atua exteriormente, na medida em que tem perfeição; e
padece a atuação de uma outra, na
medida em que é imperfeita. Assim, se a Mônada tiver
percepções distintas, atribui-se-lhe a ação; se confusas, a paixão.”(LEIBNIZ,
1983a, p.110) O que não poderia ser diferente, pois se Deus as criasse
completamente ativas e perfeitas, as mônadas se igualariam a Ele, e
isso, nos levaria a uma remissão ao infinito. Seria
preciso buscar externamente um outro ser que fosse a causa desses seres
perfeitos, mas que não fosse produto de nenhum outro.
Diante da noção de
harmonia preestabelecida, na qual tudo já existe potencialmente nas mônadas no
momento de sua criação por Deus, pergunta-se a respeito de estar o Supremo
artífice também obrigado a escolher sempre o melhor. A isso Leibniz responderá
não se tratar de uma necessidade lógica, na qual o oposto implique contradição,
mas sim de uma necessidade moral de se produzir o máximo de bens, assegurando
ainda a contingência de uma alternativa distinta. Esse “não poder” agir de
outra maneira coloca-se a Deus da mesma forma como se mostra impossível a um
sábio matemático aceitar um resultado errôneo para uma certa equação, o fato de
Deus ter de escolher o melhor dos mundos nãoser de modo algum condenável, visto
demonstrar apenas o poder de um Ser que é sapientíssimo.
Então, diante dos
vários universos possíveis, a razão suficiente para a escolha divina deve
“encontrar-se na conveniência ou nos graus de perfeição contidos nesses mundos
[...] eis a causa da existência do melhor, conhecido por Deus pela sabedoria,
escolhido pela sua
bondade, e produzido pela sua potência”(LEIBNIZ, 1983a,
p.110).
Considerações Finais É na sua metafísica monadologica que
encontramos os fundamentos daquilo que levará Leibniz a uma concepção otimista
do mundo, defendendo ser este o melhor entre
todos os possíveis.
Sendo as mônadas
consideradas sem partes, e, por isso, os elementos das coisas, e ainda todo o
composto como por elas formado, apresenta-se a noção de uma harmonia
preestabelecida por Deus para assegurar a unidade de cada uma das mônadas
quando se
encontram agregadas, formando a multiplicidade.
São exatamente
esses dois fatores, a saber, o uno e o múltiplo, que, concatenados
harmoniosamente, garantirão toda a perfeição no mundo. Toda a quantidade de
essência presente na mônada criada iguala-se ao seu grau de perfeição, do mesmo
modo que sua
perfeição corresponde ao seu grau de distinção, e, por
fim, tem a mônada ação à medida que se distingue. Com isso temos assinalada a
relação entre ação e distinção, que por sua vez une-se às de perfeição e
harmonia.
Deus comparando
duas substâncias simples encontra a razão para acomodá-las de tal forma que,
quando uma produzir certa ação, a outra sofrerá uma paixão proporcional. O que
determina se uma mônada representa um estado ativo ou passivo são os graus de
distinção que ela comporta naquele dado momento.
Se por um lado Deus se utiliza do critério de simplicidade
para criar o melhor mundo, pelo fato de que leis mais simples são também as
mais eficientes, por outro todas as suas ações estão conformes à mais perfeita
universalidade. De modo que não se pode dizer que há no mundo qualquer
irregularidade e imperfeição, nem tampouco que Deus permitiu o mal, como o
queriam os opositores do sistema leibniziano.
É com grande
otimismo que Leibniz responde a esse problema. O mal se expressaria de três
formas, a saber: o mal metafísico, o mal moral e o mal físico. O primeiro surge
da imperfeição da essência das criaturas, visto ser a perfeição apenas atributo
divino.
Isso não quer dizer que Deus tenha agido imperfeitamente
ao criar, mas apenas que permitiu o menos perfeito. Quanto ao mal moral,
pode-se dizer que deriva do metafísico.
Somente um ser perfeito poderia agir sem incorrer no erro,
mas sendo as criaturas seres limitados em sua essência, não são capazes de
compreender o todo, e, logo, o equivocarem-se.
Com tanto não se deve responsabilizar o Criador, pois a causa desse mal
é unicamente a criatura. O mal físico seria consequência da limitação
metafísica e também uma punição pelo pecado. Se Deus permite determinado
sofrimento, só o faz tendo em vista um bem
ainda maior que possa surgir. A dor faz com que se aprecie
melhor o bem, pois ela contribui para a perfeição daquele que a sofre.
Contudo, ao Supremo Artífice que compreende presente,
passado e futuro em um só momento, tudo está de acordo com a mais bela harmonia
preestabelecida.
Graduando do curso de Filosofia, 3° ano da Faculdade de Filosofia e
Ciências – UNESP – CEP 17525-900–
Marília, São Paulo – Brasil, e-mail: rvagna@yahoo.com.br e membro do
grupo de pesquisa “Em torno do iluminismo”, com orientação do Dr. Ubirajara
Rancan de Azevedo Marques e-mail: (bira@marilia.unesp.br)
Referências:
LEIBNIZ, G. W. Correspondência com Clarke.
Tradução Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: Nova Cultural, 1988a. (Os
pensadores).
Novos ensaios sobre o entendimento humano. Tradução: Luiz
João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1988b. (Os pensadores).
Os princípios da filosofia ditos a monadologia. Tradução
Marilena de Souza Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1983a. p.103-15. (Os
pensadores). Discurso de Metafísica. Tradução Marilena de Souza Chauí. São
Paulo: Abril Cultural, 1983b. p.117-52. (Os pensadores).
ARTIGO RECEBIDO EM:
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ric/article/viewFile/146/137
KETHER (Pai – Mônada)
Para ser consciente de Si Mesmo, ou para fazer-se compreensível a Si
Mesmo, Ain se converte em pws y)Ain Soph (Infinidade) e todavia mais em rw) pws
y) Ain Soph Aour, a Luz Absoluta Ilimitada dos budistas); que então por
contradição (Tsimtsum, de acordo com o Zohar) se concretizou em um Ponto
Central Sem Dimensões, Kether, a Coroa, que é a primeira sephirah da Árvore da
Vida.
Outra forma de expressar esta mesma ideia é através do conceito de
negatividade absoluta, as Forças Giratórias (Rashith haGilgolin) que pressagiam
a primeira manifestação do Ponto Primordial (Nekudah Rishonah), que se converte
na raiz primitiva da qual surgirá tudo mais. Kether é a Mônada inescrutável, a raiz de todas as
coisas, definida por Leibniz em relação à natureza
extrema das coisas físicas e a unidade última de consciência, como um ponto
metafísico, um centro de energia espiritual, não ampliável e indivisível, cheio
de vida incessante, de atividade e força. É o protótipo do todo espiritual e,
em verdade, de todas as coisas do cosmo.
Nesta relação o leitor deveria recordar o seguinte extrato de O
Universo Misterioso, onde Sir James Jeans escreve:
Isto demonstra que um elétron deve, ao menos em certo sentido, ocupar
a totalidade do espaço... Eles (Faraday e Maxwell) descreveram uma partícula
eletrificada... que lançava... “linhas de força”, através de todo o espaço
(páginas 54-55).
O conceito científico do elétron matemático que ocupa “a totalidade do
espaço” corresponderia ao conceito cabalístico de Kether no Mundo de Assiah. Os
quatro mundos se explicam no capítulo 7.
Na cabala se inclui aquilo que se conhece com as dez sephiroth. Especula-se
a respeito sobre aquilo que estas implicam — Dez números, dez mundos ou dez
sons? A dedução geral de Cordovero é que se trata de princípios substantivos de
kehlim, vasos de força, ou ideias categóricas mediante as quais se expressa a
Consciência do Universo. Uma passagem metafórica do Zohar afirma em relação a
este ponto: A água do mar é ilimitada e não tem forma. Porém, quando se estende
sobre a terra, produz uma forma... O curso das águas do mar e a força que emite
para estender-se sobre o solo são duas coisas. Depois se forma uma imensa bacia
com as águas que surgem da fonte; é o mesmo mar e que pode ser contemplado com
uma terceira coisa. Esta ampla concavidade d’água se divide em sete canais, que
são como muitos tubos largos através dos quais se comunicam as águas. A fonte,
a corrente, o mar e os sete canais formam todos juntos o número Dez... Depois a
passagem segue explicando que a fonte ou Causa Primária de todas as coisas é
Kether, a primeira sephirah; a corrente proveniente dela, a inteligência
mercurial primitiva, é Chokmah, a segunda; e
o mar em si mesmo é a Grande
Mãe, Binah, a terceira; os sete canais citados são as sete
sephiroth abaixo ou inferiores, como são denominadas. Os cabalistas postulavam
dez sephiroth, pois para eles o dez era um número perfeito, um número que
incluía todos os dígitos sem repetição e continha a essência total de todos os
números. Isaac Myers escreve que o 0-1 acaba e 1-0, e o rabino Moses Cordovero,
em seu Pardis Romonim, diz que “o número dez é um número que abarca tudo. Fora
dele não existe outro, pois aquilo que está além de dez volta novamente à
unidade”.
Kether, a Coroa, é, pois, a Primeira sephirah. Como Causa Primeira ou Demiurgo
se denomina também Macroprosopus, ou o Grande Rosto no Zohar. O número um tem
sido definido por Theon de Smyrna como “o elemento principal dos números que,
enquanto muitos podem ser diminuídos por subtração e está em si mesmo privado
de todos os números, permanece firme e estável.” Os pitagóricos diziam que a Mônada é o
princípio de todas as coisas e disseram, de
acordo com Photius, os nomes de Deus, a Primeira de todas as coisas, o Criador
de todas as coisas. É a fonte das ideias.
A cabala doutrinal atribui a cada sephirah inteligências chamadas de
diversas maneiras, Deuses, Dhyan Chohans, Anjos e Espíritos, etc., pois a
totalidade do Universo nesta filosofia é guiada e animada por séries completas
destas hierarquias de seres sensitivos, cada um com uma missão e função particular,
variando em seus graus respectivos e estados de consciência e inteligência.
Contudo, há uma consciência indivisível e absoluta, surpreendente em todas as
partes de cada partícula e cada ponto infinitesimal no universo manifesto no
Espaço. Porém sua primeira diferenciação, por emanação ou reflexo, é puramente
espiritual e permite a ascensão a um número de “seres” que podemos chamar
deuses; sua consciência é de tal natureza, de tal grau de sublimidade, que
superam os nossos entendimentos. Sob certo ponto de vista os “deuses” são as
forças da natureza; seus “nomes” são as leis da natureza; são, por conseguinte,
eternos, onipresentes e onipotentes — unicamente, contudo, para o ciclo de
tempo, embora seja infinito, onde se manifestam ou se projetam.
Os nomes dos deuses são importantes, pois de acordo com a doutrina
mágica, saber o nome de uma inteligência supõe possuir, de imediato, um
controle peculiar sobre ela. O Prof. W. M. Flinders Petrie, em seu livrinho
sobre A Religião do Antigo Egito, afirma que “o conhecimento do nome dá poder a
seu conhecedor.”
À Coroa, o primeiro dígito, se atribui o nome-Deus de hyh) (Eheieh),
traduzido por “Serei”, significando de forma distintiva que o esquema da
natureza não é estática nem um sistema de existência onde os processos
criativos tenham sido consumados já faz tempo, senão vibrante, progressivo e
sempre favorecedor. Seus deuses egípcios são Ptah, que, uma vez mais, de acordo
com prof. Flinders Petrie, era um dos deuses abstratos — e o criador do ovo
cósmico; e Amon-Ra — com o qual se identificava a Osíris —, rei dos deuses e
“senhor dos tronos do mundo.” Seu equivalente grego é Zeus — identificado com
Júpiter na teogonia romana — que se representa geralmente como o pai onipotente
e o rei dos deuses e dos homens. Os romanos consideravam Júpiter como o Senhor
do Céu, o maior e mais poderoso dos deuses e lhe chamavam de o Melhor e o Supremo.
Nos sistemas religiosos da Índia é Brahma o criador, do qual surgiram os sete
Prajapati — nossas sete sephiroth inferiores — que, por sua ordem, completaram
a criação do mundo.
O diamante é atribuído a Kether, pois é a mais duradoura e reluzente das
pedras preciosas. Também, por várias razões, os antigos fizeram do cisne uma
atribuição deste dígito. Em todas as lendas o cisne é o símbolo do Espírito e
do Êxtase. As lendas hindus contam que o cisne (Hansa), quando lhe davam leite
misturado com água, separava os dois, bebendo o leite e deixando a água —
supunha-se que isto demonstrava sua destacável sabedoria. O falcão também é uma
correspondência. Se recordarmos que Kether é a Mônada, o ponto de vista individual,
podemos entender a atribuição do falcão, pois tem o hábito de permanecer sereno
no ar, olhando para baixo, desde o éter azul à terra e contemplando tudo com
total objetividade.
O âmbar cinza é o mais raro e preciso dos perfumes — embora contenha
pouco perfume em si mesmo é o mais admirável como base de compostos, destacando
o melhor de qualquer outro perfume com aquilo que possa estar misturado —, tem
seu lugar nesta categoria de ideias. A cor atribuída a Kether é o branco; suas
atribuições no Tarô são os quatro Ases e no Sepher Yetzirah é chamado de “A
Inteligência Admirável ou Oculta”.
De acordo com o Comentário das Dez sephiroth, do rabino Azaziel, cada
sephirah tem três qualidades diferentes. Primeiro, tem sua própria função como
sephirah já descrita. Seu segundo aspecto é o de receptor para comprovar a
sephirah acima, ou a partir de acima, no caso, de Kether; e terceiro, transmite
sua própria natureza, e aquilo que são recebidos de cima àquelas sephiroth
inferiores (figura 3, abaixo).
A Tríade das Supremas
Fonte:
ÁRVORE DA VIDA
(UMA INTRODUÇÃO À CABALA)
ISRAEL REGARDIE
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